Olá a todos,
Para quando a utilização das traduções com o AO 1990?!
É estranho e lamentável ver num site como o WordPress Portugal a não utilização do AO.
Ainda mais que existem traduções mistas e algumas delas efetuadas por pessoas que aqui rejeitam o acordo.
O AO em nada danifica a nossa língua e em muitos casos até simplifica na sua escrita.
Na minha humilde opinião, acho que já é mais que tempo para as pessoas se adaptarem e respeitarem o acordo porque este não vai voltar atrás no tempo.
Nós estamos no séc. XXI.
Obrigada pela vossa atenção e tempo.
Sinceramente,
Manuela Silva
Luís Miguel Sequeira 28 Ago 2017, às 2:42 Permalink | Inicie a sessão para responder
Cara Manuela,
Não sei se sabe, mas o AO90 vai ser total e completamente revisto, porque não existe um AO, existe, sim, uma infinidade de formas de escrever «correctamente» português, todas elas derivadas das actuais regras do AO, que não estabelecem uma ortografia única para o português, mas sim um leque consideravelmente grande de variantes possíveis. Leia o seguinte artigo: http://www.dn.pt/sociedade/interior/academia-das-ciencias-vai-rever-acordo-ortografico-5547264.html do qual cito o parágrafo pertinente:
Ana Salgado, coordenadora do novo Dicionário da Academia, defende que “o Acordo Ortográfico, assinado em 1990, não estabelece uma ortografia única e inequívoca, deixando várias possibilidades de interpretação em muitos casos, o que tem provocado alguma instabilidade ortográfica”.
Sem existir essa estabilidade ortográfica, é uma perda de tempo estar continuamente a rever traduções atrás de traduções. Fazer traduções é um trabalho moroso. Assim, a opção foi de manter o WordPress traduzido com a última versão ortograficamente correcta, estável e não ambígua do português, deixando opcionalmente a utilização do português noutras versões que não essa para plugins.
Por exemplo, a Priberam desenvolveu o seu próprio plugin (https://www.flip.pt/Produtos/Plugin-do-FLiP-para-WordPress/Descricao), de acordo com os seus próprios critérios de interpretação do AO90 (que pode consultar aqui: http://www.priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf) É o priberamês, e é tão correcto, legítimo, e oficial, como qualquer outra versão do português oficial desde Janeiro de 2016, pois segue o AO90.
Talvez prefira, no entanto, o lincês — o português escrito pelo Lince, uma ferramenta gratuita que implementa uma variante do acordo ortográfico de 1990 segundo os critérios estabelecidos pelos programadores do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (http://www.portaldalinguaportuguesa.org/lince.html). É a ferramenta usada pela maior parte dos institutos públicos, em particular a entidade que imprime o Diário da República. Lamentavelmente, os programadores do Lince cometeram alguns graves erros e na realidade o Lince não observa a 100% o AO90 (ao contrário do produto da Priberam), o que significa que teremos algum dia, no futuro, de corrigir cerca de uma dúzia de anos de edições do DR que não estão em português ortograficamente correcto…
Ou então talvez prefira o microsoftês, que é a interpretação da Microsoft do AO90 e que está incluído em todos os produtos da Microsoft… ou ainda o googlês… que é o que a Google interpreta como sendo português ortograficamente válido, de acordo com os seus próprios critérios… todas estas variantes do português respeitam integralmente o AO90, mas não escolhem as mesmas regras, optando pela variante que reuniu o consenso dos programadores das respectivas empresas. Todas estas versões são diferentes entre si, assim como são diferentes do português produzido pelo Lince, o mais divulgado, e que lamentavelmente é a única ferramenta que não respeita o AO90 na sua totalidade (e são justamente os casos mais flagrantes que estão incorrectos…).
Como actualmente o português não tem uma ortografia fixa, infelizmente isto quer dizer que o WordPress só poderá ser traduzido (por voluntários!) para uma versão do português que seja estável e não ambígua, pois o WordPress não foi desenhado para suportar ortografias instáveis, a nível do seu código nuclear — os programadores originais do mesmo sempre assumiram que a maioria dos países tinha uma única ortografia válida que fosse inequívoca. Portugal gosta de ser diferente. Podia dizer o que penso das pessoas que acharam que era «fixe» e modernaço ter uma ortografia variável no séc. XXI, deixando que cada «falante de português» possa escolher as regras ortográficas que prefere, mas isso não faz sentido discutir aqui. Em vez disso, prefiro dizer que esta situação do AO já foi discutida mais de um milhão de vezes, e, por uma questão técnica — a impossibilidade do WordPress poder usar ortografias variáveis e não ambíguas — o WordPress, para já, encontra-se traduzido para a última versão única e não ambígua da ortografia portuguesa, deixando aos utilizadores a liberdade de escolherem os plugins que preferirem para efectuarem a tradução para a variante do AO90 de que gostem mais (são igualmente livres de implementar a sua própria versão da ortografia, se assim o entenderem, tal como a Priberam já o fez).
Entretanto, aguardamos pela nova geração de linguistas da Academia de Ciências de Lisboa a trabalhar no novo acordo ortográfico da língua portuguesa que irá finalmente acabar com as ambiguidades, e esperamos, como eles já nos prometeram, de introduzir um pouco de bom senso, coisa que tem faltado nos últimos 27 anos. Como pode calcular, isto não se faz de um dia para o outro — mesmo o AO90, feito à porta fechada, sem consultar ninguém para além de meia dúzia de pessoas com credibilidade muito duvidosa, levou muitos anos a ser preparado em segredo; o novo AO, do qual apenas temos de momento um mero vislumbre (por sinal muito positivo), e que se espera que seja desenvolvido segundo outros critérios e outras linhas de orientação, provavelmente levará muito mais tempo a ser produzido (e, sinceramente, mais vale perder dez anos a fazer uma coisa bem feita do que fazer uma mal feita e andarmos às turras durante vinte e sete anos…).
Respeitosamente,
Manuela Silva 29 Set 2017, às 14:09 Permalink | Inicie a sessão para responder
Deveria estar mais informado, nesta altura:
https://www.dn.pt/portugal/interior/governo-rejeita-rever-o-acordo-ortografico-5654344.html
O ministro dos Negócios Estrangeiros português afastou hoje a possibilidade de revisão do Acordo Ortográfico, referindo que está em vigor em Portugal e que falta ser aplicado pelos países onde a ratificação ainda está em curso.
…
“O Acordo Ortográfico está em vigor em Portugal, é um acordo internacional que obriga o Estado português”, referiu o ministro, acrescentando que “evidentemente que nada está isento nem de crítica nem de possibilidade de melhoria”.
Vitor Madeira 2 Set 2017, às 0:18 Permalink | Inicie a sessão para responder
Cada vez mais se torna imperativo criticar o que está a ser feito no que respeita às questões da ortografia no seio desta comunidade. O assunto é deveras importante e não pode ser deixado passar em branco ou ser considerado de menor importância.
Existe uma ortografia oficial na República Portuguesa, pelo que, seria mais do que óbvio que a prioridade deveria ser a de considerar as regras da ortografia oficial como prioritárias e as regras obsoletas como secundárias e de menor importância, descendo a sua prioridade para o meio ou fundo da tabela.
Após ler o comentário do Luís MIguel Sequeira, fico mesmo ainda mais assustado, pois verifico que a desinformação e a tentativa de enganar ainda é uma das estratégias básicas com que alguns dos membros desta comunidade procuram munir-se para tentar terminar o debate por ali, deixando a ideia de que nada mais existiria para debater, tal é o débito de desinformação e engano que por ali se pode ler.
Infelizmente, é mesmo muito triste.
Zé Fontainhas 2 Set 2017, às 17:21 Permalink | Inicie a sessão para responder
Alguém te impede de continuares o debate? Respondeste a algum ponto, um que fosse, para amostra, do comentário do Luis? Parece-me que quem quer terminar o debate és tu.
Já agora, insinuações e acusações veladas, era do tempo da PIDE, podes elaborar sobre quem são esses temíveis “alguns dos membros desta comunidade” que fazem parte dessa cabala para te silenciar, para que ao menos se possam defender?
Luís Miguel Sequeira 3 Set 2017, às 22:04 Permalink | Inicie a sessão para responder
O mero facto do Vítor poder ter colocado aqui o seu comentário mostra que não há qualquer tentativa de «terminar o debate» ou de «silenciar» quem quer que seja.
Quanto ao resto, agradeço que me explique em que consiste essa «desinformação» ou «tentativa de enganar» a que se refere. Mas não o precisa de fazer aqui, que é um forum técnico; pode mandar-me emails se quiser, penso que há-de haver algum sítio no meu perfil onde estejam os meus contactos.
Seja como for, a questão inicial mantém-se: o WordPress não consegue lidar com ortografias variáveis. Aliás, do meu conhecimento, nenhuma ferramenta informática o consegue fazer. A possibilidade de colocar a versão do WordPress numa ortografia segundo o AO90 implicaria fazer o mesmo que a Priberam (entre outros, claro está), ou seja, enumerar as regras opcionais do AO90 que seriam adoptadas «oficialmente» pelo WordPress; mas isso é ridículo, já que não é papel do WordPress, ou da sua comunidade, ter pretensões de andar a fazer «interpretações» desse tipo — provavelmente obrigaria igualmente a contratar um linguista famoso da praça para que validasse o wordpressês de acordo com as possibilidades do AO90… enfim, não é razoável assumir que exista viabilidade nesse tipo de abordagem.
Como disse (ou melhor, citei, já que pelos vistos sou acusado de «desinformação», o que considero irónico, mas tudo bem…), a melhor alternativa neste momento para quem queira usar uma versão do AO90 de que goste é de utilizar um plugin adequado; não gosto de estar sempre a mencionar a Priberam, até parece que sou pago para lhes fazer publicidade (!), mas o certo é que não só têm um plugin como, melhor ainda (e ao contrário de muitas outras soluções de «correcção ortográfica» que por aí andam…), têm o tal manual detalhado com as opções que tomaram relativamente à versão deles do português — pelo menos há total transparência e nada de surpresas.
Finalmente, e para terminar, gostaria de realçar uma certa falta de precisão nas palavras do Vítor quando diz «existe uma ortografia oficial na República Portuguesa […] considerar as regras da ortografia oficial como prioritárias». Ora não faço a menor ideia qual a sua formação — pelo que apreendi do seu blog, fala no artigo que escreveu sobre computação de 5ª geração para a Wikipedia, algo que não é totalmente acessível a quem seja leigo na matéria, pelo que deverei assumir que, para além de baterista, tem alguma formação na área da informática — mas arrisco fazer a observação que não será uma formação jurídica extensa, ou, se estiver completamente errado nesse aspecto (alguns dos meus melhores amigos são auto-denominados cromos informáticos mas tiveram formação em Direito, alguns até mesmo terminando o curso e inscrevendo-se na Ordem), pelo menos poderei alegar que não compreendeu em pormenor (e aqui são os pormenores que contam!) o que é que foi aprovado em termos legislativos. Na realidade, não foi «criada» uma «ortografia oficial na República Portuguesa». Foi, isso sim, aprovado um Acordo Ortográfico, assinado por vários países cuja língua oficial é igualmente o português, e que se encontra em vigor enquanto Resolução da AR (que, como decerto saberá, é um mecanismo legislativo que está, em termos de importância legislativa, abaixo das Leis do nosso país; consulte o artº 166º da Constituição Portuguesa). Todos os tratados internacionais (e o Acordo Ortográfico é um tratado!) revestem-se sob forma de resoluções, também pode ir consultar isso online se desconfia que é mais «desinformação»… mas adiante: as resoluções da AR têm evidente poder legislativo, mas não devemos exagerar a sua importância, como infelizmente muita gente tem feito neste caso concreto. Em particular — e dado isto ser um «acordo» e não «uma ortografia» — não existe obrigatoriedade de nenhum português usar nenhuma das regras inventadas no AO90 se assim não o quiser (vá lá reler a Resolução da Assembleia da República n.º 26/91, de 23 de Agosto e a Rectificação n.º 19/91, de 7 de Novembro, se não «acredita» em mim). Existe, isso sim, uma Resolução do Conselho de Ministros (outra resolução… não é sequer um Decreto-Lei!) que estabelece uma interpretação do AO90 para ser utilizado pelo Governo e pelos órgãos na sua dependência, e (parcialmente também) pelo Diário da República (que está sujeito a outras leis, leis essas que por serem leis e não resoluções podem, em certos casos, ter prioridade). Essa interpretação… é uma das muitas interpretações possíveis do AO. É apenas a que o Governo Português para si próprio. E nem podia ser de outra forma: cada governo dos países que subscreveram o tratado que estabelece o AO90 obviamente que fará a sua própria interpretação e que a aprovará para utilização nos respectivos órgãos de governação. Não se esperaria qualquer outra coisa; aliás, o AO90 levou 21 anos a assinar, mesmo com esta liberdade de ortografia, se se colocassem ainda mais entraves à sua assinatura, seria de uma ingenuidade tremenda acreditar que alguma vez o tratado entrasse em vigor…
Ou seja: o importante aqui é compreender (e não «desinformar») que o Acordo Ortográfico não estabelece uma ortografia do português (oficial ou não, é irrelevante; tudo o que emane da AR é «oficial»). Estabelece, isso sim, um método (altamente complexo e sujeito a imensas interpretações possíveis e antagónicas) a partir do qual se podem estabelecer múltiplas ortografias diferentes da língua portuguesa, todas elas diferentes entre si, mas no entanto todas elas validadas pelo AO90. É isto que conduz à «instabilidade ortográfica» que só agora, 27 anos mais tarde, a Academia de Ciências de Lisboa veio a «descobrir» (chegaram tarde à mesma conclusão que já se sabia que iria acontecer em 1990, mas isso são outras conversas…): é que o acordo ortográfico, pela sua natureza — é um tratado, um acordo, não uma ortografia única e inequívoca — permite a co-existência de múltiplas grafias válidas do português em simultâneo, todas elas resultantes de diferentes opções tomadas em relação à interpretação das regras feita por cada pessoa que olhe para o AO90. A Microsoft fez uma, a Priberam outra, a Google outra, o Lince outra, o próprio Conselho de Ministros outra, e assim por diante… com alterações a serem feitas (sempre de acordo com as regras!) com uma frequência que é completamente «absurda» (estou a citar a ACL!!). Daí a noção de «ortografia variável», que, se não percebeu ainda, era uma expressão sarcástica minha — um paradoxo, se quiser, já que a noção de «ortografia» presume uma interpretação única, e «variável» é justamente o oposto disso.
Se quiser uma analogia informática, isto seria como se o AO90 fosse um tema de WordPress que permita alterar o conjunto de normas gráficas em termos de CSS, espaçamentos, tipografia, imagens, etc.; qualquer pessoa poderia fazer as suas próprias escolhas, e teria um aspecto completamente diferente, dependendo das opções tomadas; no entanto, o tema seria sempre o «mesmo» — a base, as regras, o esqueleto, o template seria o mesmo, mas cada opção/interpretação feita dos vários elementos gráficos conduziria obviamente a um aspecto visual completamente diferente. No entanto, cada qual desses aspectos visuais seria obtido a partir do mesmo tema, ou, se quisermos, poderíamos dizer que existe uma «família» de aspectos visuais, completamente distinta entre si, que pode ser gerada pelo mesmo tema de WordPress. É assim que se deve entender o Acordo Ortográfico enquanto um tratado de vários países, culturalmente diferentes mas partilhando uma língua comum, e que pretendem, justamente, ter a sua própria ortografia, escolhendo as suas próprias regras consoante o uso corrente nos respectivos países, mas sabendo que todas essas regras resultam de opções feitas a partir do mesmo documento de base.
O problema é que o tratado não diz (nem o poderia fazer) que só os países é que podem fazer essas opções, ou seja, assumindo que sejam os respectivos governos e/ou assembleias representativas que «representem» o país em questão, nada é dito no tratado sobre quem é que define uma «instância» específica da ortografia, ou melhor, não existe nenhuma proibição de quem é que não pode definir essas instâncias. Assim, de acordo com o AO90, não é possível dizer que a interpretação da Priberam seja «mais válida» do que a do Conselho de Ministros: ambas são igualmente válidas.
Pessoalmente, há uns anos atrás, pensei que, em Portugal, fosse a Academia de Ciências de Lisboa a definir a «interpretação oficial» do AO90 para o nosso país, já que foi esta a entidade responsável por definir o dicionário oficial da língua portuguesa. Mas este dicionário é um work in progress: está constantemente a ser alterado, à medida que os eruditos da ACL discutem se certa interpretação do AO90 está mais ou menos de acordo com a grafia mais adequada para os portugueses. Portanto, este dicionário é como a Wikipedia (de que o Vítor tanto gosta): está em permanente actualização e nunca estará fixo. A diferença para a Wikipedia, claro está, é que só um número reduzidíssimo de pessoas o pode editar (bem… os wiktators também mantêm o nº de editores da Wikipedia reduzidos, mas pronto…).
Mas isto foi ingenuidade minha. Nem sequer o Conselho de Ministros, ao aprovar uma ortografia para os órgãos do Governo, foi buscar a ortografia proposta pela ACL. A própria resolução admite que foi «inspirada» na interpretação da ACL, mas que foram buscar inspirações a outras fontes, como por exemplo um portal na Internet sobre a língua portuguesa (organizado por privados, logo, independentes do próprio Estado). Portanto, se nem sequer o Conselho de Ministros está de acordo com a forma que a ACL interpreta as regras de ortografia do português — e presume-se que os Senhores Ministros, com o devido respeito que me merecem, não são especialistas em ortografia! — então como seria possível, a uma comunidade de voluntários no WordPress, conseguirem chegar a um «consenso» sobre o wordpressês?
É que as leis de um país (e vou usar a palavra «leis» num sentido lato, incluindo tudo, desde portarias a resoluções a decretos-lei, leis orgânicas, etc. etc. etc. etc.) são sempre ambíguas; carecem sempre de interpretação, por mais «precisas» que pareçam ser; e é por isso que temos advogados e juristas e magistrados para interpretarem essas leis e as tentarem aplicar da forma melhor que souberem, muitas vezes contra a intenção inicial do legislador — que só tem é de voltar a rever as leis de forma a reflectirem melhor essa sua intenção, o que por sua vez será de novo sujeito a mais interpretações, e assim por diante… É assim que funcionam todas as leis em todos os países que tenham Estados de Direito. Portugal — e o Acordo Ortográfico enquanto tratado internacional aprovado por resolução da AR — não é diferente.
Estamos esclarecidos?
Poder-se-á, certamente, admitir que a comunidade WordPress adopte provisoriamente uma qualquer interpretação do AO90 (não interessa qual — o princípio, neste caso, seria o de que mais vale ter uma má interpretação do AO90 do que não ter nenhuma), até que a ACL faça a tão esperada revisão do Acordo Ortográfico, processo esse que não tem prazo, e que eu estimei levar apenas uma década (mas é apenas uma estimativa minha). Se é essa a sua proposta — tal como parecia ser a da Manuela Silva que iniciou esta discussão — então direi apenas, em minha defesa, que esta existência de «múltiplas interpretações» da ortografia portuguesa só fará mais confusão: imagine que alguém está habituado a usar o software da Priberam, mas que o WordPress adopta, em vez disso, o português do Lince; vão haver constantes discussões sobre quem é que tem o «português mais correcto» (abordagem errada: segundo o AO90, ambos estão correctos, mesmo que não escrevam o português da mesma forma) e acusações — bem reais! — de que hoje em dia cada português pode escrever a sua língua natal da forma como lhe apetecer.
O que é verdade. Constato isso frequentemente — cada vez mais as pessoas escrevem uma «mistura» ortográfica que por vezes segue as regras do AO90, por vezes nem sequer isso; falta consistência (algo que a Manuela apontou, embora noutro contexto) na forma como se escreve, e a mesma pessoa pode um dia escrever português ortograficamente correcto segundo alguma versão do AO90, mas no dia seguinte escrever o português que aprendeu na escola quando andava no liceu; e assim por diante.
Nas palavras de Ivo Miguel Barroso, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e constitucionalista: «O AO 90 tem inúmeras fragilidades. ‘Electrónica e Electrotecnia’ pode ser escrito de 32 formas diferentes sem violar o AO, o que contraria o próprio conceito de ortografia».
Ah, já agora: o Vitor devia dar uma olhadela na sua página pessoal na Wikipedia, pois esta contém alguns erros ortográficos de acordo com qualquer uma das versões do AO90. Isto infelizmente é o que tem acontecido com toda a gente, por isso não considere uma crítica, mas apenas a constatação de um facto (e não de um fato) — quanto mais se «tenta» aplicar uma versão qualquer do AO90, mais erros ortográficos se cometem.
E por hoje chega. Venha daí o rebatimento da «desinformação» (com citações, por favor; não vamos fazer batota, isto vale para os dois lados). Verá que sou uma pessoa muito aberta a ser persuadida com argumentação clara e lógica que demonstre inequívocamente de que esteja errado (a minha mulher, por exemplo, consegue sempre convencer-me de que ela tem razão — mas não por birra, apenas por desmontar os meus argumentos e apresentar os dela; claro que eu sou duas vezes mais burro do que ela, por isso ela está em vantagem; mas já consegui também convencê-la dos meus argumentos uma ou duas vezes!).
Apenas agradeço que tenha em consideração que não estamos a discutir este ponto em abstracto (para isso, como disse, tem o meu email, ou o meu blog, ou o que quiser), mas sim na medida de que a solução, seja ela qual for, seja tecnicamente implementável no WordPress. De momento, a solução que parece ser a mais adequada e a que resolve todos os problemas sem ter qualquer desvantagem é manter o WordPress traduzido na última versão fixa do português, permitindo livremente, quem quiser (ou quem assim for «obrigado» de acordo com a sua consciência ou o seu patrão…), de instalar um qualquer plugin que converta o WordPress para a variante do AO90 que mais lhe agradar. Digo «de momento» porque existe uma (fraca) possibilidade de surgir um AO2025 ou AO2030 que apresente uma nova ortografia do português que seja única e inequívoca, e, nessa altura, qualquer argumento técnico que eu possa apresentar em 2017 estará obviamente ultrapassado 🙂
Luís Miguel Sequeira 3 Set 2017, às 22:14 Permalink | Inicie a sessão para responder
Disclaimer: as várias gralhas, erros ortográficos e de sintaxe que já encontrei no meu comentário acima (depois de o reler) são da minha inteira responsabilidade, e não de nenhum corrector ortográfico ou gramatical que esteja de momento a usar.
marcoalmeida 3 Set 2017, às 23:07 Permalink | Inicie a sessão para responder
“Infelizmente, é mesmo muito triste.”
É mesmo. Já paravas de fazer acusações infundadas e ofender a comunidade. E antes que digas que te querem silenciar, pensa que pudeste deixar aqui (e em TUDO o que é fórum relaccionado com WordPress) a tua opinião sobre o assunto.
O meu comentário é apenas sobre a tua atitude e não sobre o assunto que a motivou, porque sobre isso já o @arundel disse o que havia a dizer de forma tão eloquente como eu nunca o conseguiria.
speleos 6 Set 2017, às 13:49 Permalink | Inicie a sessão para responder
Cara Manuela Silva,
A ortografia portuguesa rege-se pelo Decreto n.º 35.228 de 8 de Dezembro de 1945, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 32/73 de 6 de Fevereiro. A aplicação do AO90 rege-se pela Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008, que é um instrumento legislativo hierarquicamente inferior a um Decreto-Lei e, portanto, não o revoga.
Não estando a legislação que rege o AO45 revogada, está em vigor. Estando em vigor… não se deve escrever em acordita.
Por outro lado, o RAR 35/2008 obriga apenas o Estado e as entidades dele directamente dependentes à aplicação da reforma ortográfica. Fora da esfera do Estado e Administração pública, o AO90 não é tido nem achado.
Manuela Silva 29 Set 2017, às 14:13 Permalink | Inicie a sessão para responder
Segundo notícias no dia 7 de fevereiro de 2017:
“O Acordo Ortográfico está em vigor em Portugal, é um acordo internacional que obriga o Estado português”, referiu o ministro, acrescentando que “evidentemente que nada está isento nem de crítica nem de possibilidade de melhoria”.
speleos 2 Out 2017, às 13:08 Permalink | Inicie a sessão para responder
A Resolução da Assembleia da República 35/2008 obriga o Estado. Nesse ponto, a opinião do ministro pode ser sustentada. Fora da esfera do Estado, o Decreto n.º 35.228 não foi revogado.
Por outro lado, este acordo internacional obriga o Estado Português a fazer muitas coisas antes de se poder considerar sequer que o Acordo Ortográfico entre em vigor. Uma delas é que seja criado um vocabulário ortográfico comum. Sem ele, diz o texto do acordo, não se pode avançar. Este vocabulário ortográfico comum existe? Não. Há previsões para que surja na próxima década? A avaliar pelo que tem sido feito, também não.
A opinião do ministro é a de que o AO está em vigor. Vale o que vale. Face à legislação em vigor e às condições impostas pela própria redacção do Tratado do AO, conclui-se que não está.